domingo, 31 de janeiro de 2010

O que Edvard Munch diria se não tivesse fumando seu charuto no jardim?



Ela vai gritar de novo em quinze segundos. No máximo.
Puts, errei por 10.
Caralho, como ela grita, penso.
Tenho vontade de sair na chuva e gritar, as vezes.
Mas ela é demais. DEMAIS.

Que saco, penso no dia seguinte.
Por que? - eu pergunto.
Porque - eu respondo - ela já está gritando de novo.

E no dia seguinte? A mesma coisa - respondo.

Engulo a seco um gole de café. Está gelado, penso.
Que horrível, completo.
...
Até que não é tão ruim, finalizo.

As pessoas julgam demais.
As pessoas reclamam demais.
As pessoas comentam o que lhes é alheio demais.
Ah, as pessoas são demais.

Pelo menos pra mim.
Eu acho.


domingo, 24 de janeiro de 2010


Um Amargo Nicotina.


Pé anti pé.
Pegada por pegada.
Quantos passos aquela Rua já havia recebido?
Isso ela não sabia.
Sete quadras depois, sabe-se lá em quantas bitucas de cigarro já havia pisado.
Riscou um fósforo e acendeu o seu próprio.
'Fósforo legal' - disse um mendigo.
'Tênis legal' - respondeu.
Seria engraçado, caso o mendigo tivesse pernas.

Desejou ter mais compaixão.
Afinal, tinham algo em comum.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


Na Ponta dos Olhos.



Ela parou e me olhou nos olhos.

Olhou la dentro.

Doeu.

Seus lábio se abriram levemente, como que para dizer alguma coisa.

Novamente se fecharam. O olhar doeu mais ainda.

Ai, chegou na alma, pensei.

Então a voz dela saiu como num sopro, cuspindo aquele ar quente imundo na minha cara:

- Você está sentindo alguma coisa?

- Rá - ri sem graça.

AAiii. Ela me fitou tão fundo que achei melhor responder logo.

- Não. Não sinto nada.

- Você está de troça comigo?

- Rá - e completei a frase antes de ela fizesse doer mais -, não. Mas você está desatualizada.

- O Senhor não vê que está empacando a fila?

- Vejo, pois meu problema não é de visão. Meu problema é que não sinto nada.

- Não sente nada mesmo. Nem vergonha na cara, nem compaixão. Tem mais gente na fila.

- É, eu sei. Quando eu cheguei também tinha gente na fila e eu aguardei.

- O senhor pode se retirar?

- Não. Eu não vou me retirar.

Xi, aquele olhar de novo. Vou fingir um desmaio para não ter que olhar em seus olhos.

Ela mandou o segurança me retirar do hospital.

- Sinto muito senhor. Mas vou ter que te retirar.

- Sim, claro. Mas eu não sinto nada - respondi.