sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


Na Ponta dos Olhos.



Ela parou e me olhou nos olhos.

Olhou la dentro.

Doeu.

Seus lábio se abriram levemente, como que para dizer alguma coisa.

Novamente se fecharam. O olhar doeu mais ainda.

Ai, chegou na alma, pensei.

Então a voz dela saiu como num sopro, cuspindo aquele ar quente imundo na minha cara:

- Você está sentindo alguma coisa?

- Rá - ri sem graça.

AAiii. Ela me fitou tão fundo que achei melhor responder logo.

- Não. Não sinto nada.

- Você está de troça comigo?

- Rá - e completei a frase antes de ela fizesse doer mais -, não. Mas você está desatualizada.

- O Senhor não vê que está empacando a fila?

- Vejo, pois meu problema não é de visão. Meu problema é que não sinto nada.

- Não sente nada mesmo. Nem vergonha na cara, nem compaixão. Tem mais gente na fila.

- É, eu sei. Quando eu cheguei também tinha gente na fila e eu aguardei.

- O senhor pode se retirar?

- Não. Eu não vou me retirar.

Xi, aquele olhar de novo. Vou fingir um desmaio para não ter que olhar em seus olhos.

Ela mandou o segurança me retirar do hospital.

- Sinto muito senhor. Mas vou ter que te retirar.

- Sim, claro. Mas eu não sinto nada - respondi.



Um comentário:

  1. Tive que ler umas duas vezes pra entender... haha
    Vamos ver se esse vai... Pq o outro o Sr. abandonou né ? HSAUHS

    abraço querido.
    Saudades.

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