Diálogo.
“O que foi? Não me olha assim não, heim. Você nem sabe o porquê de eu estar chorando. Fica aí, com esse olhar me reprovando. Você não sabe de nada, viu. Ta vendo, você está me fazendo chorar. Eu já tinha quase parado, aí você chegou e aqui estou eu, me dissolvendo em lágrimas. Sabe de uma coisa, eu acho que estou certa. Não devia estar chorando. E sabe por quê? Porque eu acertei. Ele não me merecia mesmo, fiz o certo ao dar uma bota nele... Ele é tão bonitinho... mas é um galinha, e agora está sozinho. Azar dele. Você está me ouvindo? Ele que saiu perdendo, não eu. Para! Não me olha assim, não estou me gabando, estou apenas tendo amor próprio, coisa que já tinha esquecido o que era.”
“Ahhh, tudo será diferente a partir de agora. Não tenho mais a quem dar explicações. A quem justificar atrasos ou conversas com outros caras. Não tenho mais quem me limitar e me censurar. Acabou a ditadura. Não tenho mais... a quem amar. Ta vendo? Tudo tem seu lado triste, e lá vou eu chorar de novo. Não tenho também a quem apertar a mão quando sentir medo – sobre tudo em filmes de terror -, não tenho mais com quem dividir a cama no frio. Não tenho mais com quem contar quando quiser um abraço. Ah sim, tenho meus amigos.”
“Pensando bem, não tenho mais amigos. Renunciei a todos quando decide ficar com ele. Ai, ele era tão lindinho no começo. Só no começo. Meus amigos bem que me avisaram, mas como eles iriam saber? Não dava, dava? Lógico que não. Agora to sozinha. Bom, quem precisa de amigos, não é? Eu não preciso nem de família.”
“Minha família me deixou. Ah, está bem, serei franca. Eu que deixei minha família. Mas não tive escolha. Disseram-me para escolher entre eles ou ele. O que eu iria fazer. É, eu sei, mais eu estava apaixonada, né. Pena que você não saiba o que é estar apaixonada. É tão bom, mas o coração não deixa o cérebro funcionar direito, ai já viu, fazemos algumas besteiras mesmo.”
“Mas acho que você não está muito a fim de ouvir isso, não é? Se pudesse falar, aposto que diria: Não, pare já aí! Vou parar de te atormentar”
“Sabe, às vezes fico pensando que deve ser bom ser igual a você, não se preocupar com nada e passar a noite por aí, de telhado em telhado...”